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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

Sua Majestade, D. Triunvirato

Miguel Nunes Silva, 08.07.13

Portugal caiu no domínio do Triunvirato...

Há três entidades que efectivamente controlam a partir de agora o Estado Português e que são por conseguinte responsáveis pelos destinos do país:

 

 

 

1 - Troika = Os senhores de Bruxelas, Frankfurt e Washington continuam a deter a derradeira palavra no que toca a políticas económicas em Portugal. Não há como o evitar até a dívida ser saldada e sustentabilizada, ou até irmos para a bancarrota.

Obrigado Esquerda Portuguesa...

 

2 - Aparelho PSD = Ao contrário da sua predecessora, o líder do PSD está dependente do apoio do aparelho do PSD. Não há convicções ideológicas no aparelho; estes 'centristas' preocupam-se apenas com ganhar eleições e manter os seus cargos partidários. Isto é perigoso pois a sua colaboração com a Troika é puramente instrumental e assim que a puderem descartar e quebrar o ímpeto das reformas estruturantes, que ninguém tenha dúvidas que o farão. 'Popularidade' é mais importante, para estes senhores, que 'responsabilidade', e a ânsia em voltar a cair nas boas graças do eleitorado é urgente.
Não admira portanto que se afirmem como tudo e mais alguma coisa, desde 'esquerda radical' a 'neoliberais'... a facção da manga de vento...

 

3 - CDS-PP = O táctico golpe de Paulo Portas foi de mestre pois o CDS-PP é agora pare inter pares no poder em Portugal e exerce tanta influencia como o PSD. Esta coligação de iguais tornou-se no entanto perigosíssima pois tornou as reformas estruturais em curso mais dependentes dos amigos da onça; de populistas que farão e prometerão tudo para poderem ganhar a próxima eleição - sempre a próxima eleição.


Posto isto, auguram-se tempos difíceis para quem quer seriedade e pensamento estratégico em Portugal. Torço por ti 'responsabilidade', mas vejo-te cada vez mais longe do pódio...

Definição de Hipocrisia = António José Seguro

Miguel Nunes Silva, 22.01.13

Desde há umas semanas o líder socialista vinha a dizer o seguinte:

 

"O Partido Socialista não está disponível e quero deixar um aviso ao primeiro-ministro: ele não tem mandato para fazer um corte desta natureza"


“o PS está disponível para debater a modernização do Estado, mas indisponível para ser cúmplice de um corte nas funções do Estado”

 

 

Hoje, fruto dos cortes já efectuados, da intenção de fazer mais, e da boa performance de Portugal nos mercados que AGORA e GRAÇAS A VÍTOR GASPAR permitiram uma baixa nos juros da dívida, a Troika consentiu em permitir a Portugal mais flexibilidade no pagamento da dívida.

 

"Ricardo Costa (Expresso) "Eu, que escrevi várias vezes que seria quase impossível que Portugal regressasse aos mercados em 2013, reconheço sem qualquer problema que com estas regras Portugal está em condições de o fazer. Mais relevante, a estratégia negocial de Vítor Gaspar foi a correcta, sobretudo nos prazos em que jogou as suas cartas. Sempre sem forçar e sempre a aproveitar a terra firme que outros, sobretudo a Irlanda, iam pisando.""

 

Revela hoje o Ministro Irlandês das Finanças Michael Noonan que "Vítor Gaspar, acertou em dezembro passado com o seu homólogo irlandês aguardarem pelo «momento oportuno» para reivindicar a extensão do prazo para pagar os empréstimos"

 

 

Até François Hollande - o pretenso arauto da anti-austeridade - se viu forçado a admitir que não só Portugal tinha implementado bem o ajustamento das medidas da Troika mas que tinha sido precisamente o desgoverno do passado que havia posto Portugal no buraco em que se encontra:

 

"Põe-me a questão de saber se a França poderia seguir o exemplo de Portugal... Não! Porque os níveis da dívida não são comparáveis, porque as situações económicas são diferentes... mas é porque queremos evitar chegar a essas soluções [de cortes nos salários, nas pensões...] que é preciso encarar o problema o mais rapidamente possível e o mais eficazmente possível"

 

E que têm Seguro e o PS a dizer?

 

"o PS teve razão no tempo certo", ao pedir mais tempo e mais dinheiro". Mas que grandessíssima cara de pau!!!

 

Como se tal flexibilização pudesse ter ocorrido sem os cortes que o PS criticou e prometeu inviabilizar!!!!!!!!!!

Pepa e a verdadeira crise portuguesa

Paulo Colaço, 14.01.13

Todos conhecem a recente história da “Pepa” por isso poupo-me a introitos.

Sim, a gaiata tem uma voz afetada e isso foi natural motivo de gozo. Tal como gozamos com o fanhoso, o zarolho, o tetraplégico: é que Deus castiga se não encontrarmos motivos para zombar das vicissitudes alheias.

Mas não foi essa a principal causa da chuva de críticas ao anúncio.

O problema é que um dos desejos de Pepa para 2013 é uma mala que custa caro. E não interessou a ninguém que ela a pensa pagar amealhando aos poucos. Não, o que interessou é que a Samsung preferiu dar voz a quem quer uma mala e não a quem quer uma lata de atum.

 

“Quem nasceu para dez tostões, não chega a conto de reis”, diz o povo. Quer isto dizer que quem sonha baixo, não voa alto. Ou que quem pensa pequenino nunca chegará a grande.

No futebol diz-se: quem não marca sofre.

Na realidade, os portugueses não ficaram ofendidos porque Pepa queria um produto consumista em tempo de crise: os portugueses melindraram-se porque são mesquinhos, invejosos e não conseguem admitir que haja gente optimista e que possa ter sonhos inatingíveis para a maioria.

Enquanto estivermos mais preocupados nos sonhos, projetos e conquistas dos outros, mais atrasamos a marcha das nossas próprias vitórias.

É por isso que estamos permanentemente em crise: ocupamo-nos demasiado com a vida dos outros, a nossa não nos chega!

É por isso que uns palermas se melindram quando veem o Primeiro-Ministro sorridente em tempos de crise, ou quando uma miúda quer uma mala.

 

A SIC entrevistou a famosa Pepa e perguntou-lhe se ela se arrependia. A resposta foi sublime. Se bem me lembro, disse algo como “apesar de tudo, não me arrependo: o meu desejo foi honesto, verdadeiro e legítimo”.

Se o povo for inteligente, percebe a chapada de luva branca.

Há Burlões e Burlões

Miguel Nunes Silva, 25.12.12

 

Muito tenho aqui escrito sobre burla. Para responder às massas que cegamente reivindicam mais apoio estatal simultaneamente chamando aos políticos 'gatunos', tenho tratado os esquerdistas por 'burlões'.

 

É que simplesmente não há mais dinheiro para distribuir pela população e prometer mais apoio - ou a manutenção do actual - através da racionalização de recursos - o mítico rigor Vs austeridade - é uma quimera destinada exclusivamente a servir o interesse eleitoralista e demagógico da liderança do PS. Quando é que uma sociedade mediterrânica alguma vez foi rigorosa ou sequer eficiente na gestão dos seus recursos (excluindo o Salazarismo...) ?

 

Não, a austeridade é o único caminho minimamente credível e aquilo que há a discutir são os moldes dessa mesma austeridade.

 

Mas tal como as crises desmascaram burlões, também fazem emergir outros. Nassir Ghaemi no seu livro 'A Mente Louca dos Grandes Líderes Mundiais' explica que certas personalidades são mais hábeis no exercício de liderança em tempos de prosperidade, e outras em tempo de crise. O que está na base desta discrepância é o passado - sobretudo tempos de infância - da pessoa em questão: caso tenha vivido em estabilidade, o individuo está adaptado a afirmar-se em contextos de estabilidade e vice-versa. Logo, aqueles que em tempos de crise prosperam são pessoas habituadas a fazerem passar mensagens radicais e a adaptarem-se a circunstâncias difíceis. Assim, tal como os políticos radicais sobressaem em tempos de crise, os burlões do improviso sobressaem contrapostos aos burlões dos esquemas de pirâmide, os quais estão no jogo para o longo prazo.

 

No entanto, a sofreguidão com que Artur Baptista da Silva foi escutado E DIVULGADO pelos media é um indicador na minha humilde opinião, de algo mais para além de habilidade de burlão: é um indicador do pendor esquerdista dos media Portugueses. Depois de meses e meses de descrédito da liderança socialista assim como da 'rua esquerdista' - criticando tudo e todos e falhando redondamente não só em oferecer uma alternativa mas também em escapar ao inevitável facto de que a direita havia previsto a crise muito antes de ela chegar - eis que emerge um D. Sebastião das brumas...

 

... Aqui está pela primeira vez alguém com credibilidade independente (ONU) que defende o fim da austeridade em Portugal. Ironia das ironias, acaba por ser exposto como burlão de primeira categoria.

No fundo o caso Artur Baptista da Silva deve ser visto com bons olhos pela direita: ele acaba de validar a política de austeridade por mais uns anos.

A Tirania da Classe Média

Miguel Nunes Silva, 05.11.12

Como já foi escrito neste blogue - e fruto de esclarecimento obtido de fonte directa - o pensamento político de Manuela Ferreira Leite é tipicamente social-democrata e como tal a ex-Presidente do PSD defende a classe média como o motor da economia par excellence

 

Assim se explicam as críticas recorrentes a este governo e às medidas adoptadas - e que ao contrário do que é dito pelos media, não são críticas novas. Na perspectiva de Ferreira Leite as medidas governamentais para combater a crise devem incentivar a recuperação da classe média e não penalizar esta ainda mais.

 

Aqui eu divirjo da ex-Presidente porque eu vejo na classe média Portuguesa algo mais que o motor de crescimento Português. A classe média é um trunfo da nação Portuguesa e ajuda à sua estabilidade, mas para quem queira ser mais objectivo, esta classe é também a causa de muitos dos problemas do país. O crescimento desmesurado do aparelho de Estado, apoiado pela narrativa politicamente correcta esquerdista, foi causado pelos eleitores, cuja maioria perfaz precisamente a classe média. Este aparelho de estado tem beneficiado na sua forma obesa uma classe acima das outras e esta tem sido a classe média. Como já escrevi anteriormente, as classes altas não têm necessidade do sector social do estado e as classes baixas estão condenadas a um círculo vicioso de pobreza. Sim a escola e a saúde são 'universais' mas todos temos consciência de que essa universalidade serve mais uns que outros, que as escolas são todas públicas mas que as crianças de uns são transferidas para 'certas' escolas públicas e que outras não...

 

A verdade é que a classe média nos países do sul tem mantido o aparelho estado refém e a crise revelou tal controlo como apenas mais um dos esquemas de pirâmide que foram montados quando a liquidez abundava.

 

Por conseguinte as inevitáveis medidas de austeridade e a reforma (redutora) do sector social do estado são o único caminho a seguir e tanto o governo como a Troika têm razão em insistir em cortes. 

O que poderá ser posto em questão é o 'como', e não o 'quê'.

A Direita é Ingénua

Miguel Nunes Silva, 22.09.12

Há uns anos atrás, em conversas de meios conservadores, a interpretação da realidade era de uma resignada constatação do estado das finanças do país e de um certo schadenfreude por se ter a certeza que mais cedo ou mais tarde o país iria acordar para o triste destino ao qual a esquerda o estava a votar.

 

 
Os sentimentos expressos eram de pena, de resignação ao caminho para a bancarrota mas apesar do derrotismo, também de alguma esperança. Se por um lado eleições como a de 2009 provavam que os eleitores Portugueses não se sabiam comportar em democracia, premiando com vitórias eleitorais quem mais bugigangas lhes prometesse em vez de elegerem a pessoa mais responsável para gerir um património comum, por outro lado havia a certeza de que depois de a governação socialista implodir o país as coisas apenas poderiam mudar para melhor para a direita - o pequeno consolo de que ainda que a guerra pelo presente do país estivesse perdida, a guerra pelo futuro seria ganha; havia o consolo de que ainda que a guerra pelo país estivesse a correr mal, os livros de história haveriam de premiar o nosso lado da batalha ideológica - uma variante do "viveram antes do seu tempo". 

Mas este anacronismo, estes prematuros históricos, amaldiçoados com o mau timing de quem "tem razão antes do tempo", estão agora a acordar para um pesadelo dentro de outro pesadelo: a inoportunidade histórica da direita ainda não acabou!...

 

Na verdade as nossas expectativas estão a ser goradas por nossa própria culpa pois não me lembro de alguém alguma vez ter previsto a reacção da esquerda ao fim do socialismo do caviar. Regozijáva-mo-nos por derradeiramente sermos aclamados pela nação, mas nunca pensámos no que faria o outro lado da divisão ideológica. Será que estava implícito que baixariam a cabeça e sairiam em vergonha? 

 

Eu compreendo muito bem a reacção de Duarte Marques quando exige pedidos de desculpa do PS, e a daqueles que querem que os governantes sejam responsáveis criminalmente pelos desfalques que cometem.

 

Mas devo fazer mea culpa: devo porque quando durante a era Sócrates eu escrevia críticas ao PS por deixar as Socranettes afundarem o país, eu julgava que era apenas Sócrates e o seu círculo que eram desonestos. Por desgostar de teorias da conspiração, nunca me ocorreu culpar toda a esquerda.

 

O problema é que a era Sócrates acabou há um ano e perante a verdade brutal da vitória ideológica da direita na última batalha que deveria enterrar de vez os delírios socialistas, a esquerda está de volta sem qualquer semblante de embaraço. Mas porquê? Devemos atribuir a gritante hipocrisia a fanatismo ideológico? Será puro posicionamento eleitoralista? Será tacticismo destinado a impedir que a direita corte o menos possível no sector social do estado?

 

 A esquerda recorre a tudo aquilo que pode ser confundido com argumentos: seja teoria da conspiração (os mercados conspiram contra Portugal especificamente) ou cortina de fumo (corrupção dos políticos, investimento na defesa). Mas o dogma sagrado, o sacrossanto intocável é o sector social do estado. Que ninguém toque na segurança social, educação, saúde, administração pública - também conhecidos por 70% do orçamento de estado and counting e/ou causa primária do crescimento da dívida ... Isto une toda a esquerda.

 

A mesma esquerda que defende a sustentabilidade climática e ambiental não quer saber da sustentabilidade financeira. Esta é simplesmente demasiado inconveniente ou anátema.

Mas que esperança há num país se este não consegue aprender com o mais básico dos exercícios de empirismo: a inviolabilidade da aritmética?

Que deve a direita fazer? Jogar o mesmo jogo sujo e tentar vencer a batalha falando mentira? Prometendo o que não pode ser cumprido? Continuar a oferecer austeridade por princípio e em detrimento próprio?

 

Seja qual for o resultado, a reacção da esquerda Portuguesa augura tempos muito maus para Portugal e um futuro extremamente doente. 

Portugal e a Europa ou a Europa e Portugal?...

Miguel Nunes Silva, 14.11.10

Hoje, o eurodeputado Britânico Daniel Hannan escreve no seu blogue sobre a Irlanda.

 

Ele tira duas importantíssimas conclusões:

 

 

1 - A predominante opinião de que a Irlanda deve o seu milagre económico à UE está errada. A Irlanda desenvolveu-se sobretudo devido aos seus laços com o RU e os EUA e ao facto de falar inglês, o que ajudou imenso ao inserir a Irlanda como uma plataforma de sector terciário conectada aos seus companheiros anglófonos dos dois lados do Atlântico; isto tanto mais enfatizado pelo facto de que a maior parte dos fundos comunitários para a Irlanda vinha da PAC e era destinado à agricultura - sector em declínio e hoje marginal, também naquela república marítima periférica.

 

2 - A segunda conclusão que Hannan retira é que a Irlanda sai penalizada por pertencer à zona €uro. A Irlanda desenvolve a maior parte do seu comércio com países que não utilizam esta moeda e o custo de manter uma moeda que não pode ser desvalorizada é ver os fluxos comerciais afluírem ao semi-fraterno mas pobre enclave monárquico da ilha bem como à Grã-Bretanha.

 

Estruturalmente, a Irlanda difere substancialmente da Europa e vale a pena reflectir sobre qual seria hoje a orientação de voto dos Irlandeses num referendo...

 

Que lições tem Portugal a tirar? Nós estamos muito mais ligados à UE é claro e o nosso sector financeiro até conseguiu resistir à crise. No entanto, eu lembro que os mercados aonde as nossas empresas se refugiaram da crise foram o Angolano e o Brasileiro. É Timor que nos poderá comprar títulos da dívida, e a maioria dos votos que nos elegeram para o Conselho de Segurança da ONU vieram do terceiro mundo e não da Europa - aonde o nosso principal parceiro comercial Alemanha, não teve grandes pruridos em açambarcar os votos do bloco ocidental às nossas custas.

Em relação ao aspecto estrutural, Portugal é a quintessência do problema que levou à criação dos fundos de coesão. Se a Irlanda anda a contra ciclo, que dizer de nós?...

Euro: Sangue frio e Credibilidade

Guilherme Diaz-Bérrio, 25.09.09

 No dia 9 de Agosto de 2007, os mercados pararam. Lembro-me desse dia especialmente bem pois, além de ser o meu aniversário, foi o dia em que recebi de "prenda de anos" ir trabalhar para um Hedge Fund. 

 

Imaginem o meu começo: primeiro dia no trabalho e aniversário, e quando entro, os mercados estão em "Arritmia cardíaca"! Ninguém sabia o que se estava a passar!

 

O mercado interbancário de Londres e Frankfurt estava parado. Nenhum banco emprestava dinheiro a outro banco na zona euro. Como consequência, a Euribor estava a caminho da Lua! Normalmente este é o dia que se associa com o "começo oficial" da actual crise, o dia em que os problemas se tornaram demasiado evidentes.

 

Foi também o dia em que um homem liderou um Banco Central de uma forma eximia. O mercado parado, todos os bancos em pânico, os investidores a pensar "Os EUA ainda estão fechados, a Reserva Federal o que fará?", e o Banco Central Europeu decide tomar a iniciativa e não esperar! Em poucas horas apagaram o fogo e acalmaram os mercados. Pela primeira vez, a Reserva Federal seguiria outro Banco Central nas suas medidas. Enquanto Bernanke e a Fed estava a garantir ao Congresso que o "problema estava contido", Trichet e o BCE estavam com calma, a fazer a ponte entre bancos, para garantir o bom funcionamento do mercado, sem descer as taxas de juro a zero.

 

Nunca houve uma diferença tão clara de respostas dos dois lados do Atlântico em relação à resposta a uma crise. Nunca o Banco Central Europeu sofreu tantas pressões para seguir a Reserva Federal. Mas Trichet revelou-se o único banqueiro central a manter o sangue frio no meio da crise. Enquanto a Reserva Federal ligava as impressoras, o BCE mantinha um equilibrio delicado entre o seu mandato contra a inflação e a estabilidade do sistema financeiro.

 

Muito se passou: falou-se do fim do Euro, da saída de países, de como Trichet ia "implodir com a Europa" com a sua "teimosia", de como deviamos seguir os americanos na sua política, de que era preciso as famosas "Eurobonds"!

 

Dois anos depois, ainda não saimos da crise. Mas as diferenças de sustentabilidade e credibilidade dos dois lados do Atlântico começam a ser claras. O Japão e a China hoje falam em passar parte das reservas de Dólares para Euros, os bancos europeus estão de muito melhor saúde que os americanos (honrosa excepção para os Espanhois, o "buraco negro" financeiro da Europa!) e a contracção de crédito parou na Zona Euro, segundo os últimos dados.

 

Já vi, nos meus dias de fundo de investimento, quando Trichet e Bernanke falam no mesmo dia, os "mercados" seguem o primeiro e ignoram o segundo. Hoje, já não se fala de fim do euro. O Euro sobreviveu à sua maior crise, e a uma das maiores crises financeiras das últimas décadas. Agradeçam, em primeiro lugar, ao BCE e ao seu "irritante" Governador, Jean Claude Trichet!

Oh really?

Guilherme Diaz-Bérrio, 17.09.09

 

Damn! Ninguém me avisa destas coisas! Parece que "além Atlântico" se decretou o fim da recessão, no inicio da semana. Entre Obama e Bernanke fomos salvos. Ou será que fomos mesmo...?

 

Vamos ignorar que estamos a falar da mesma pessoa que disse, e passo a citar, "O Subprime está contido!" ao Congresso dos EUA.

 

Hum... vamos ver... o crédito continua a contrair nos EUA, comportamento de um "consumidor típico" a libertar-se da dívida e a reduzir passivo. O pouco consumo que existe na economia é... financiado pelo governo, via estimulos.

Nenhum dos problemas da Banca norte-americana foi resolvido, leia-se perdas não realizadas em balanço, capital inadequado, excessiva concentração do sector (onde 10 bancos, em quase 10 mil, detêm 65 por cento dos depósitos bancários da Economia). 

 

Já para não falar de que, fora a inflação potencial no sistema - repitam comigo: reservas a mais, reservas a mais, reservas a mais! - temos o pequeno problema não resolvido do Petroleo. Não só não há mais produção como, em tempo de crise, se diminuiu a exploração.

 

E falando em Governo, este está correr deficits fabulosos que só não se revelam via taxas de juro porque as "impressoras da reserva federal estão a funcionar".

 

Isto cada vez soa mais a "Japão, versão ocidental". Alguém, honestamente, acredita que chegamos ao fim da viagem?