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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

Já consultou o seu médico homeopata?

Rui C Pinto, 25.02.11

A homeopatia conheceu nos últimos dias uma verdadeira exposição mediática, em grande parte, motivada pelo movimento internacional 10:23, que pretende alertar a sociedade para a falta de sustentação científica de uma industria que cresce e já movimenta milhões de euros a vender açúcar. 

 

Muitos tendem a relativizar o assunto. Porém, o assunto é sério. Primeiro, porque anda por aí quem se defenda diplomado em homeopatia, sem que haja qualquer instituição superior em Portugal que leccione tais matérias. Segundo, porque os medicamentos homeopáticos invadiram o mercado e estão nas prateleiras de farmácias e para-farmácias ao lado de outros medicamentos. Terceiro, porque muitas pessoas, desconhecendo o que é a homeopatia ou as suas terapêuticas, optam pelo medicamento homeopático julgando tratar-se apenas de outra marca. Sintetizando, porque existe um esquema fraudulento montado que reclama cursos universitários que não existem e vendem produtos certificados em teorias de ficção científica em farmácias. 

 

Eu não venho defender que não devam ser usadas estas ou aquelas terapêuticas, por serem cientificamente menos válidas ou por preconceito intelectual. Não. Julgo que as pessoas têm o direito a escolher. Tem todo o direito a procurar a consulta de medicinas alternativas como as medicinas tradicionais chinesas, ou até de procurar as ciências ocultas, vulgos bruxos, feiticeiros, curandeiros, etc.. O que defendo é a clara separação entre ciência e oculto. Imagine que chega a um hospital e tem, no serviço de urgência, um médico devidamente credenciado, um curandeiro de iemanjá, e o bruxo Alexandrino. Que lhe parece a ideia de ser atendido aleatoriamente por qualquer um deles? É mais ou menos o que se passa quando vai à farmácia e tem, lado a lado, na prateleira o Cêgripe e o Oscillococcinum. A diferença é relevante: o primeiro contém 500mg de paracetamol e o segundo eventuais vestígios de extracto de fígado de pato.

 

Para quem não conhece os princípios da Homeopatia, é importante que saiba a técnica que lhe está subjacente: é uma ciência que se baseia no conceito de memória da água; isto é, imagine que dissolve uma aspirina num garrafão de água. O princípio homeopático defende que se agitar esse garrafão de água durante um determinado tempo, a água que estava no garrafão, por efeito do contacto com as moléculas de ácido acetil salicílico, aprendem o seu comportamento terapêutico, pelo que, basta beber umas gotas de água desse garrafão para que o efeito da aspirina ocorra. Menos mal seria se a homeopatia utilizasse fármacos que conhecemos... Porém, a verdade é que se optar pelo medicamento homeopático para os sintomas gripais (pode fazer download da bula aqui), numa dose de 1g de medicamento estará a tomar 0,01ml de uma solução diluída de extracto de Anas barbariae hepatis et cordis, vulgo fígado de pato, sacarose e lactose, vulgo açúcar. Portanto, da próxima vez que sentir sintomas gripais, opte por um foie gras à Guérande e use açúcar no café. 

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