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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

A Direita é Ingénua

Miguel Nunes Silva, 22.09.12

Há uns anos atrás, em conversas de meios conservadores, a interpretação da realidade era de uma resignada constatação do estado das finanças do país e de um certo schadenfreude por se ter a certeza que mais cedo ou mais tarde o país iria acordar para o triste destino ao qual a esquerda o estava a votar.

 

 
Os sentimentos expressos eram de pena, de resignação ao caminho para a bancarrota mas apesar do derrotismo, também de alguma esperança. Se por um lado eleições como a de 2009 provavam que os eleitores Portugueses não se sabiam comportar em democracia, premiando com vitórias eleitorais quem mais bugigangas lhes prometesse em vez de elegerem a pessoa mais responsável para gerir um património comum, por outro lado havia a certeza de que depois de a governação socialista implodir o país as coisas apenas poderiam mudar para melhor para a direita - o pequeno consolo de que ainda que a guerra pelo presente do país estivesse perdida, a guerra pelo futuro seria ganha; havia o consolo de que ainda que a guerra pelo país estivesse a correr mal, os livros de história haveriam de premiar o nosso lado da batalha ideológica - uma variante do "viveram antes do seu tempo". 

Mas este anacronismo, estes prematuros históricos, amaldiçoados com o mau timing de quem "tem razão antes do tempo", estão agora a acordar para um pesadelo dentro de outro pesadelo: a inoportunidade histórica da direita ainda não acabou!...

 

Na verdade as nossas expectativas estão a ser goradas por nossa própria culpa pois não me lembro de alguém alguma vez ter previsto a reacção da esquerda ao fim do socialismo do caviar. Regozijáva-mo-nos por derradeiramente sermos aclamados pela nação, mas nunca pensámos no que faria o outro lado da divisão ideológica. Será que estava implícito que baixariam a cabeça e sairiam em vergonha? 

 

Eu compreendo muito bem a reacção de Duarte Marques quando exige pedidos de desculpa do PS, e a daqueles que querem que os governantes sejam responsáveis criminalmente pelos desfalques que cometem.

 

Mas devo fazer mea culpa: devo porque quando durante a era Sócrates eu escrevia críticas ao PS por deixar as Socranettes afundarem o país, eu julgava que era apenas Sócrates e o seu círculo que eram desonestos. Por desgostar de teorias da conspiração, nunca me ocorreu culpar toda a esquerda.

 

O problema é que a era Sócrates acabou há um ano e perante a verdade brutal da vitória ideológica da direita na última batalha que deveria enterrar de vez os delírios socialistas, a esquerda está de volta sem qualquer semblante de embaraço. Mas porquê? Devemos atribuir a gritante hipocrisia a fanatismo ideológico? Será puro posicionamento eleitoralista? Será tacticismo destinado a impedir que a direita corte o menos possível no sector social do estado?

 

 A esquerda recorre a tudo aquilo que pode ser confundido com argumentos: seja teoria da conspiração (os mercados conspiram contra Portugal especificamente) ou cortina de fumo (corrupção dos políticos, investimento na defesa). Mas o dogma sagrado, o sacrossanto intocável é o sector social do estado. Que ninguém toque na segurança social, educação, saúde, administração pública - também conhecidos por 70% do orçamento de estado and counting e/ou causa primária do crescimento da dívida ... Isto une toda a esquerda.

 

A mesma esquerda que defende a sustentabilidade climática e ambiental não quer saber da sustentabilidade financeira. Esta é simplesmente demasiado inconveniente ou anátema.

Mas que esperança há num país se este não consegue aprender com o mais básico dos exercícios de empirismo: a inviolabilidade da aritmética?

Que deve a direita fazer? Jogar o mesmo jogo sujo e tentar vencer a batalha falando mentira? Prometendo o que não pode ser cumprido? Continuar a oferecer austeridade por princípio e em detrimento próprio?

 

Seja qual for o resultado, a reacção da esquerda Portuguesa augura tempos muito maus para Portugal e um futuro extremamente doente. 

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